segunda-feira, 4 de maio de 2015

La Tête en Friche

Daqueles filmes sensíveis, inteligentes e que te prendem do começo ao fim, apresento-lhes: Minhas Tardes com Margueritte.

Créditos: Divulgação

Depois de um dia cansativo, resolvi assistir a alguma coisa para relaxar e, sem dúvidas, acabei fazendo mais que isso. O filme narra à vida de Germain, um homem aparentemente rude e sem conhecimento, totalmente bruto. Mantemos esse pensamento até conhecermos melhor sua história, em que vemos sua difícil infância: por ser gordo e mais alto que seus colegas, era constantemente zoado, principalmente por seu professor, além de ser agredido por sua mãe, verbal e fisicamente.

Em um dia qualquer, Germain vai ao parque para comer seu sanduíche e acaba conhecendo uma velinha de 95 anos que transpira literatura: Margueritte. Quase instantaneamente, eles adquirem um vínculo e, educadamente, ela pergunta se poderia ler para ele, sendo surpreendida pela sua incrível memória auditiva.

O fato é que Germain nunca foi estimulado a estudar quando criança, tomando como verdade a fala de pessoas: taxando-o de burro e incapaz, portanto, percebemos sua relutância em aprender. Conforme os encontros com Margueritte acontecem, ele se entregava a magia dos livros e, a partir daí, nos deparamos com o verdadeiro Germain: um homem que cultiva as verduras que vende com todo carinho, mantém uma relação apaixonante com sua namorada e cuida da mãe doente, mesmo possuindo dolorosas lembranças. O valentão é, na verdade, um homem sensível, amante dos pequenos detalhes.

Em um determinado momento, Margueritte conta que logo não poderá mais ler, isso porque “sua visão está morrendo”; ficará cega. Germain não suportando a imagem de sua amiga sem suas histórias, decide que lerá para ela. Tendo que enfrentar todas as suas inseguranças até conseguir fazer isso com clareza, uma de suas maiores dificuldades.

Créditos: Divulgação

É simplesmente incrível como o diretor, Jean Becker faz com que nos apaixonemos pelo personagem interpretado pelo grande (em talento e em tamanho) Gérard Depardieu, transmitindo com clareza a paixão pela leitura e o poder da força de vontade. No final do filme, inclusive, somos surpreendidos com a voz de Germain, como se ele estivesse contando toda a história em um livro que ele mesmo escreveu! O gigante torna-se não só um excelente ouvinte, mas também um talentoso contador de histórias.

"Um encontro pouco comum, entre o amor e a ternura, não tinha outra coisa. Tinha nome de flor e vivia entre as palavras. Adjetivos rebuscados, verbos que cresciam como a grama, alguns ficavam. Entrou suavemente desde o córtex até o meu coração.
Nas histórias de amor há mais que amor. Às vezes não há nenhum 'eu te amo', mas se amam.
Um encontro pouco comum. Eu a conheci por acaso no parque. Ela não ocupava muito espaço, era do tamanho de uma pomba com as suas penas. Envolta em palavras, em nomes, como o meu. Ela me deu um livro, e outro, e as páginas se iluminaram. Não morra agora, há tempo, espere. Não é a hora, florzinha. Me dê um pouco mais de você. Me dê um pouco mais de sua vida. Espere.
Nas histórias de amor há mais que amor. Às vezes não há nenhum 'eu te amo', mas se amam."



Amei o filme em todos os sentidos e detalhes. Espero que gostem! Beijos,

Tissa

Nenhum comentário:

Postar um comentário